Mandela: camisas estampadas marcaram estilo do líder sul-africano
As Madiba Shirts começaram a ser usadas em 1994, quando a designer Desré Buirski mandou um presente a Mandela
Nelson Mandela lutou para acabar com o apartheid por meio da paz e do diálogo, após sua libertação da prisão em 1990. Seu sorriso era uma de suas marcas registradas, assim como suas opiniões imutáveis em relação à árdua missão de unir negros e brancos. Mas Mandela também era pop e um ícone de estilo, representado principalmente com suas camisas, as chamadas Madiba Shirts, estampadas e coloridas.
Apesar de usar ternos e gravatas em algumas ocasiões, foram com essas camisas retas usadas soltas sobre as calças compridas que ele se sentia mais confortável, até mesmo em reuniões oficiais, internacionais e ao lado de outros poderosos engravatados. “Nenhum outro presidente do mundo causou um impacto como esse na moda”, publicou uma revista sul-africana de moda em 1999, último ano de seu mandato.
Tinha razão. Sua figura alta e sorridente ficava ainda mais longilínea com a vestimenta. Sempre fechadas no colarinho, as camisas representavam não só um estilo de moda, mas um estilo de vida e de governo: alegre, sorridente , mas forte e decidido.
Mandela começou a usar as camisas de seda, viscose, algodão, estampadas em batik, por obra do acaso. Às vésperas de sua posse como presidente, em 1994, a estilista sul-africana, a branca e loira Desré Buirski, conseguiu furar o cerco e entregar aos seguranças do recém-eleito um presente, com um bilhete em que dizia: “Obrigada por tudo que você fez e pelos sacrifícios que passou pelo nosso amado país”. Tratava-se de uma camisa de viscose GG marrom com peixes pintados à mão pela designer.
Logo depois, Mandela foi fotografado com a peça durante o ensaio para a posse no Parlamento. Estava criado o estilo. O escritório presidencial encomendou outras tantas. De lá para cá, quase três centenas de camisas exclusivas de seda, viscose e algodão foram enviadas ao presidente.
Em entrevista à revista Piauí de junho de 2010 (época da última Copa do Mundo), Desré disse que havia até então mandado 130 de seda e 180 com os outros materiais. Apesar da insistência de Mandela por pagar as peças, ela nunca aceitou.
A empresa de Desré chama-se Presidential Shirts, tem quatro lojas na África do Sul e vendas online, com modelos que se chamam Honestidade, Paz, Coragem, Liberdade e Bravura. O valor de cada uma sai em torno R$ 1 mil. São feitas apenas 400 por ano, de forma manual e exclusiva.
As Madiba Shirts foram usadas também por Morgan Freeman no filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood, em que o ator americano faz o papel de Mandela na história que conta uma das primeiras tentativas de união entre brancos e negros protagonizada pelo presidente: a união da torcida negra e branca em torno do rúgbi, esporte até então da elite branca. Em 1995, Mandela levou a Copa do Mundo de Rúgbi foi na África do Sul, vencida pelo país comandado por ele.
Madiba é um dos nomes de Mandela e representa a clã Thembu a que o ex-presidente morto na quinta-feira (5) pertence. Foi também o nome de um chefe Thembu do século 19. São com essas vestimentas alegres e estampadas – Mandela tinha predileção pelos tons terrosos -, o sorriso na boca e nos olhos, os cabelos brancos e sua luta incansável pela união inter-racial que Mandela será lembrado para sempre.
