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Saiba o que acontece antes de um desfile começar

12 nov 2012 - 18h06
(atualizado em 12/3/2013 às 12h53)
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Preparar uma semana de moda, por mais curtinha que ela seja, não é uma das tarefas mais fáceis. Quem vai ao evento e assiste a um desfile muitas vezes nem imagina o que acontece por trás das passarelas, no backstage, ou enquanto a porta da sala de desfiles ainda está fechada.

Enquanto a porta dos desfiles ainda está fechada, um batalhão de profissionais trabalha para que tudo dê certo na passarela
Enquanto a porta dos desfiles ainda está fechada, um batalhão de profissionais trabalha para que tudo dê certo na passarela
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Assim como peças de teatro, shows ou qualquer outro trabalho artístico, os desfiles exigem um profissional especializado. Neste caso, um diretor de desfiles. Bill Macintyre é um dos responsáveis por fazer acontecer a apresentação de alguns estilistas. Entre a correria dos bastidores, Macintyre conversou com o Terra no backstage do R.Groove.

Macintyre, que na verdade é formado em turismo, mas já trabalhava com produção executiva, entrou no mundo da moda em 2003. “Eu sou apaixonado por cinema então fiz um curso de direção de arte para trabalhar com cinema. Mas vim fazer um desfile no Fashion Rio com um diretor de clipe para coordenar 200 figurantes. Vim meio a contragosto e acabei gostando”, disse.

Tudo que acontece durante o show foi pensado por ele e sua equipe. “Meu trabalho principal é fazer o ‘em torno’ da roupa, ou seja, criar uma imagem e uma atmosfera para apresentar essa roupa”, explicou. Macintyre trabalha ao lado do estilista e do stylist para preparar o casting, organizar a trilha sonora da apresentação, decidir como os modelos vão andar e como a coleção será apresentada.

Até o “carão” que as modelos fazem, a jogada de cabelo, o olhar e a maneira como elas caminham na passarela passam pela direção dele. “Temos que decidir como é o estilo de passada, se é mais forte, se é mais tranquilo. Deve ir de acordo com o tipo de mulher que a marca quer passar. A modelo não tem que só vestir a roupa, mas também incorporar a mulher daquela marca: mais poderosa, mais sexy, andar mais forte, quase masculino para poder quebrar a roupa, que é muito sexy.”

Cada marca tem uma necessidade diferente e, por isso, a antecipação do trabalho depende da grife. “Se é uma apresentação muito mais elaborada, começamos mais ou menos um ou dois meses antes. Quando a apresentação é mais simples, como os desfiles masculinos, por exemplo, a gente trabalha com duas ou três semanas de prazo”, detalhou. Para Macintyre, a moda está buscando uma simplicidade e um minimalismo para apresentar uma coleção, exatamente para não tirar o foco do que é importante: a roupa.

Pode não parecer, mas organizar um desfile para mulher é totalmente diferente do que organizar um para homens. “A forma de lidar com as mulheres, como qualquer tipo de relacionamento, é muito diferente da forma de como você lida com os homens”, disse. Para o diretor, com as meninas é preciso ter mais “jeito” na hora de falar, incluindo o fator de elas geralmente serem mais novas. “Para elas é mais complicado lidar com a aceitação. Para os homens é uma coisa mais simples. É difícil você ter um modelo que tem aquela vontade de ser modelo de infância, que sonhou desde pequeno. É diferente das meninas, que têm esse sonho e acabam trabalhando muito mais para isso”, contou. “Os meninos começam a ser modelos porque alguém falou que eles poderiam ser, e não ao contrário, que era um desejo e foram atrás”, acrescentou, dizendo que com o público masculino ele tem que ser mais enérgico para “botar ordem” e porque é bem mais “difícil de controlar”. "Se uma modelo faz algo errado na passarela, o jeito é “chamar ela num cantinho” para dizer que ela rebolou demais, balançou muito a cabeça, etc."

O ensaio com todo o grupo de modelos acontece apenas uma vez antes do show acontecer. Se tudo for mais elaborado, eles tentam reunir duas vezes o grupo para fazer as marcações necessárias. Mas, na maioria das vezes, é difícil ter mais tempo para ensaiar. “A realidade é que temos um problema muito grande que chamamos de cruzamento, que é a modelo que sai de um desfile para já se apresentar no próximo. Geralmente nós juntamos umas duas horas antes do desfile, quando já estamos com o cenário montado, com a luz pronta, já fez um ensaio técnico, então quando chegam as modelos e a gente casa tudo”, disse.

É exatamente nesse momento onde os “casamentos” são feitos. “Por exemplo, se queremos que a música estoure na fila final, temos que controlar a velocidade que você vai soltar a trilha. Juntamos tudo para poder acontecer”, explicou. Macintyre procura acompanhar todos os desfiles internacionais e afirmou que acontece de ter ideias similares entre as apresentações. “Você cria uma concepção para a passarela, aí chega uma marca grande, uma Prada, uma Louis Vuitton, e faz exatamente o que você ia fazer, só que obviamente muito melhor por conta do dinheiro que eles têm”, explicou. Por isso, ele diz que tenta não absolver o que acontece lá fora. “É legal mais para a gente entender em que caminho a coisa está indo. Mas eu costumo não me inspirar em outros shows. Eu procuro me inspirar mais em obras de artistas plásticos, em alguma imagem forte e que me chame atenção, num sentimento”, detalhou.

Para produzir o show, o uso da tecnologia pode ajudar, ou não. Macintyre afirmou que a tecnologia sempre acaba o deixando mais aflito porque pode falhar e, na hora, não tem o que fazer. “A gente fez um desfile de projeção mapeada, por exemplo, que foi ensaiado milhares de vezes, não deu pau nenhuma vez, e na hora do desfile deu problema. Quando você usa uma coisa mais orgânica , você tem o controle de tudo”, desabafou.

Responsável pela beleza

A produção da beleza também é uma das características com resultado final mais marcante em um desfile. Cabelo e maquiagem são, na maioria das vezes, responsáveis por finalizar um look. Lavoisier, que já tem mais de dez anos de carreira, assina a beleza de muitos desfiles, tanto no Rio quanto na semana de moda de São Paulo. “Fazer a produção de um desfile sempre dá um pouco mais de trabalho e um certo frio na barriga. Esta noite, por exemplo, eu não dormi. Você fica pensando que tem uma equipe para comandar, tem uma história para contar”, disse.

A logística para decidir o que será usado no show funciona mais ou menos assim: o responsável pela beleza se encontra dois dias antes com o estilista e uma modelo para fazer testes, ver a concepção da marca e o estilo que o estilista quer passar na passarela. “Às vezes, quando nós, maquiadores, não temos tempo, decidimos tudo no dia do desfile. Mas a gente conversa com o estilista para tentar filtrar o que vem dele e com a informação que nós temos de maquiagem ao redor do mundo”, explicou. “É uma criação conjunta, somos uma equipe. São várias pessoas fazendo o papel de uma pessoa só. A equipe de maquiadores e cabelereiros, por exemplo, tem que seguir a minha mão”, pontuou.

Para ele, a maior dificuldade de tudo são os cruzamentos de modelos entre um desfile e outro. “Às vezes vem 14 meninas de outra apresentação e você tem 20 minutos para deixar todas prontas. É uma correria”. Normalmente a equipe de um profissional conta com cinco maquiadores e cinco cabeleireiros.

Apesar de toda a experiência, Lavoisier contou ao Terra que é maquiador “por acidente”. “Eu fazia desenhos de uniformes de restaurantes do Rio de Janeiro, até que uma amiga minha contou que estava vindo um maquiador de Paris e perguntou se eu queria fazer a assistência dele por 200 euros por dia. Eu topei e me apaixonei no primeiro dia”, contou. Para ele, é natural que um profissional que está em ascensão ser convidado para cuidar da beleza de uma passarela. “Profissionalismo e postura contam muito. É assim que você vai crescendo”, finalizou.

Costura

Tudo pode estar perfeito, o caimento das peças pode estar impecável, mas acidentes acontecem. Uma linha solta, um zíper quebrado, um bordado que cai. Nessas horas, as grifes contam com as mãos especializadas de costureiras de plantão.

Vera Lúcia Cardoso esbanjava bom humor e simpatia tímida no backstage da Nica Kessler, mas conversou com o Terra entre um ajuste e outro.“Quando as modelos começam a se vestir, ficamos atentas do lado da máquina de costura parada, mas com a linha e agulha na mão e já na cor das roupas”, disse Vera, mesmo se dizendo confiante de que nada vai dar errado. “Mas se por acaso alguma coisa acontecer, pular um botãozinho, ou alguma coisa arrebentar, a gente fica pronta para dar aquela preparadinha”, explicou.

Em alguns casos, segundo a profissional, a modelo pode até emagrecer um pouco e a roupa acaba precisando de um ajuste imediato. “Damos um jeitinho especial, colocamos um alfinetezinho ou dá uma costurinha. Mas na maioria das vezes a gente vem mais por prevenção”, disse.

Vera, que trabalha há 4 anos para a passarela, disse que o “defeitinho mais desesperador” que já aconteceu minutos antes de um desfile foi com um zíper. “Ele estourou e ai a gente travou ele, prendeu tudo direitinho e logo ficou tudo certo. É tudo muito rápido”, detalhou.

Satisfeita com o trabalho, Vera confessou que ama o que faz. “Essas roupas, esse colorido e esse glamour me fascina, né?”. Ela tem 54 anos e trabalha com costura desde os 14. “Minha mãe era costureira, então fui aprendendo com ela. Mas nesse glamour do mundo da moda foi com a Nica Kessler que eu comecei”, finalizou.

Sala de desfiles

Enquanto alguns estão na correria dos backstages, outros estão na adrenalina de arrumar a sala de desfiles para receber os convidados e literalmente fazer com que tudo aconteça. Anderson Café é produtor de sala de desfiles e responsável por organizar toda a operação do local, desde a pré-produção, de conversar com todas as marcas e montar toda a logística dos desfiles. Isso acontece uma ou duas semanas antes das apresentações. “Temos três marcas, por exemplo, e pensamos como vai ser. Se essa marca tem cenário, tentamos montar à noite. Mas se tem dois desfiles antes, temos que ver como fazemos. Aí colocamos um piso por cima do outro. Fazemos a operação da sala acontecer”, detalhou.

A função vai até o esvaziamento de sala assim que o show termina, e passa até pelo controle de monitores que ajudam na organização dos convidados. Para ele, a parte mais difícil de todo o processo é a entrada do público. “Esperar todos entrarem, fazer com que todos estejam acomodados”, disse.

Nenhum desfile começa na hora marcada, mas a culpa não está na pessoa que tem essa função. “Isso depende de uma série de fatores. Tem o backstage, o cruzamento de modelos , que consequentemente atrasa a beleza. Isso é o que mais compromete o horário.

Café começou com essa função este ano, mas o Fashion Rio Inverno 2013 já é sua sexta edição, considerando as três semanas de moda de São Paulo e as duas anteriores do Rio de Janeiro. Antigamente fazia produção de palco de shows, mas “criou contato ao longo da carreira” e foi parar na semana de moda. “É encantador, maravilhoso”.

Sua equipe conta com dois produtores de sala, ele e mais um, e de seis a oito monitores. “São jovens que querem trabalhar, que querem ter acesso a esse mundo da moda e trabalhar com produção”, finalizou. “Let’s open the gates”, exclama Café quando a sala está pronta para receber os convidados e começar mais um desfile.

Fonte: Terra
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