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Modelo passa de 60 kg para 80 kg e vira plus size

Polliana Nalesso, agenciada pela Ford, cansou da pressão pela magreza e hoje usa manequim 44

3 set 2014 - 11h15
(atualizado às 12h52)
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<p>Polliana começou a trabalhar aos 13 anos, como modelo 'tradicional'; hoje, atua como plus size</p>
Polliana começou a trabalhar aos 13 anos, como modelo 'tradicional'; hoje, atua como plus size
Foto: Danielle Barg / Terra

Ano após ano, o mundo da moda é reabastecido com uma enxurrada de new faces em busca de um lugar nas passarelas do Brasil e do mundo. Em contrapartida, existem aquelas bem-aventuradas que são descobertas sem nem mesmo sonhar com a carreira de modelo.

É aquele tipo de história que todo mundo já está cansado de ouvir, e, na verdade, custa a acreditar: de que a moça estava andando por aí, distraída, até esbarrar em um olheiro casualmente.

Foi o caso da capixaba Polliana Nalesso, modelo que integra o restrito casting de plus sizes da Ford. Na verdade, o ‘chamado’ da moda apareceu duas vezes.

Modelo plus size dá dicas para quem usa modelos a partir de 44:

A primeira, aos 13 anos, no formato clássico. “Estava no shopping, fazendo compras, quando fui abordada. Eu nem sabia dizer que sim ou que não, nem sabia o que era ser modelo.”

Ela disse ‘sim’, e cumpriu uma trajetória bem-sucedida mesmo sem ter se planejado para isso.

Mas aos 23 optou por desacelerar, se casar e estudar gastronomia, sua grande paixão. Foi quando também decidiu parar de se privar de comer o que tinha vontade em nome de dois ou três centímetros a menos.

<p>A modelo viajou o mundo a trabalho e morou em lugares como Nova York, Milão e Japão</p>
A modelo viajou o mundo a trabalho e morou em lugares como Nova York, Milão e Japão
Foto: Arquivo Pessoal/Ford / Divulgação

A decisão trouxe cerca de 20 quilos a mais – o que, distribuídos em seus 1,83 m, não fizeram tanta diferença em se tratando de mulheres reais. Mas em termos de passarela, a coisa muda.

Foi aí que Polliana recebeu o segundo ‘chamado’ da moda, o de trabalhar como modelo plus size. Aos 30 anos, usando manequim 44 e com 80 quilos, ela tenta agora conciliar a paixão pelas panelas com a história de 16 anos com a moda - que ainda não chegou ao fim. Conheça a seguir a trajetória da modelo.

Apê próprio aos 16

Apesar de não conhecer nada do mundo fashion aos 13 anos de idade, tudo acabou acontecendo rápido na vida da modelo. No ano seguinte à descoberta, ela venceu o principal concurso regional da agência Ford. “Naquela época, Vitória era muito conhecida pelas misses, então ninguém entendeu que uma menina magrela ganhou o concurso. Todo mundo vaiou quando anunciaram que eu tinha ganhado”, lembra.

As vaias, no entanto, não impediram que ela fosse para a final mundial, em Los Angeles. Lá, faturou o segundo lugar e um contrato com a Ford de Nova York.

<p>A modelo mantém as medidas com corrida e ginástica funcional</p>
A modelo mantém as medidas com corrida e ginástica funcional
Foto: Arquivo Pessoal/Ford / Divulgação

A única condição imposta por parte dela para apostar na carreira era que a mãe a pudesse acompanhar em todas as viagens. “Eu morava em uma cidadezinha pequena, naquela época não tinha Internet, era carta. Eu não teria aguentado ficar sozinha”, lembra.

Polliana conseguiu conciliar os estudos até a oitava série, mas começou a trabalhar intensamente. Nessa mesma época, modelos famosas despontavam, como Alessandra Ambrosio e Gisele Bündchen, por quem tem muito respeito. “Ela é uma pessoa muito do bem, muito tranquila”.

Outro nome importante com quem a modelo tem história é Adriana Lima. “A Adriana ganhou o concurso da Ford um ano antes de mim. Quando fui para a final nos Estados Unidos, eu precisava de um vestido de festa longo. E eu não tinha. A Adriana abriu a mala dela e emprestou um vestido. Então tenho um carinho muito grande por ela, ela nem me conhecia”, lembra.

Neste período, começou a acumular trabalhos e a juntar dinheiro. Aos 16, conquistou o apartamento próprio, no Itaim Bibi, bairro nobre da capital paulista.

Desfilou no Morumbi Fashion Week (era como o São Paulo Fashion Week era chamado), morou em Nova York, no Japão e em Miami, desfilando e fotografando para grifes famosas.  “Também fiquei por dois anos fazendo muitos trabalhos para o Giorgio Armani”, lembra.

<p>Ela conta que sofre preconceito de modelos 'mais gordinhas', pelo fato de usar manequim 44</p>
Ela conta que sofre preconceito de modelos 'mais gordinhas', pelo fato de usar manequim 44
Foto: Danielle Barg / Terra

Free quadril

Polliana conta que o quadril largo era um problema nos testes nesta época. “Sempre estava com dois centímetros a mais, era sempre uma briga.”

Diante da pressão, começou a parar de ir nos castings. “Eu falava que ia, mas não ia. Não estava mais a fim, já estava rolando um pouco de rejeição. Eu estava um pouco acima do peso e não queria mais fotografar, estava um pouco empapuçada do mundo da moda. É um mundo muito estranho. Tem pessoas legais, mas tem pessoas muito ruins”, diz.

Então ela se casou, aos 23 anos – com o mesmo namorado com quem está desde os 16 – e começou a cursar gastronomia. “Desencanei de ser modelo. Cansei de ir aos testes e um falar que eu estava gorda, o outro, que estava magra. Queria me tornar uma pessoa normal. Eu achava que se eu fizesse faculdade, ia ser a pessoa mais normal do mundo. Porque modelo é anormal”, conta, rindo.

No restaurante da esquina, à paisana

Não demorou para que Polliana mergulhasse no mundo da cozinha e começasse a estagiar na área. “Eu trabalhava aqui na esquina [da Ford], e me escondia para nenhum booker me ver”, brinca.

<p>Por dois anos consecutivos, Polliana trabalhou com Giorgio Armani</p>
Por dois anos consecutivos, Polliana trabalhou com Giorgio Armani
Foto: Danielle Barg / Terra

A ideia, até então, era seguir longe do mundo fashion. “Eu me desliguei da moda, não queria saber, não queria ver nada ligado à moda.”

Polliana não define como trauma o que a motivou a dar uma pausa na carreira, mas sim, como um cansaço por trabalhar desde tão nova e pela pressão das medidas. “Cansa muito você ver as pessoas comendo e não poder comer.”

Ela lembra que, na época, parou de se pesar e de cuidar da beleza. “Desencanei muito. A pele ficou ruim, o cabelo. Acho que fiquei feia. Cheguei a 90 quilos, até mais. Vestia 48. Foi um baque. Hoje eu já não tenho nenhuma calça daquela época, mas até pouco tempo atrás eu tinha e me assustava. Eu tinha vontade de comer, não me privava. Comia de madrugada, e isso engorda muito”, afirma.

Até que um dia ela recebeu uma ligação da dona da Ford, Denise Cespedes, que a convidava para um novo projeto. Era o começo da área plus size na agência. “Tinha medo de voltar e não dar conta. Mas aí fui topando e trabalhando. Acabou que já tem quatro ou cinco anos essa história”, diz.

Preconceitos na nova jornada

Polliana conta que acabou voltando a trabalhar com clientes do início da carreira. “Eles viram minha transição de menina magrinha, novinha, para hoje uma senhora gordinha”, afirma, com bom humor.

Nessa transição, a modelo também teve que lidar com algumas barreiras internas e também com o preconceito nesta área.

Pessoalmente, ela se viu diante de um novo posicionamento com o mundo da moda, e com medo de voltar a se sentir pressionada. “Enrolei eles um mês. Mas depois parei de comer tranqueira, comecei a tomar muita água, mudar um pouco minha alimentação para melhorar a pele.”

Ela adquiriu um novo ‘vício’, as atividades físicas, e adotou uma alimentação mais saudável.

Atualmente, corre duas vezes por semana e também faz ginástica funcional. “Tento não fazer muito aeróbico, porque acabo emagrecendo”, diz, acrescentando que o cuidado agora é para não perder as curvas. “As meninas que são mais gordinhas acham que sou magra e estou tentando roubar o lugar delas.”

Segmento plus size

Polliana está aproveitando o momento, mas não acredita que o segmento plus size, no Brasil, vá longe. “Não faço planos. Eu acho que não vai durar, tem muito preconceito, as pessoas não aceitam, não entendem o que é plus size”, observa.

Ela afirma ainda que, diferente das modelos tradicionais “que sempre vão ter trabalho”, já chegou a ficar até dois meses sem modelar.

Trabalhar menos, no entanto, para ela significa conseguir conciliar os cliques com a carreira na gastronomia, com a qual faz planos para o futuro. “A moda trouxe muito para mim pelo lado emocional. Cresci muito, saí do Espírito Santo, que é uma coisa que eu não faria. Conheci o mundo todo, o Giorgio Armani. Quem não quer conhecer, trabalhar, conviver com ele? Também tem o lado financeiro, eu soube guardar dinheiro", ressalta.

Para as aspirantes, ela lembra que as exigências vão além de um rostinho bonito. “Para ser modelo, tem que estar disposta a ouvir muita coisa, o cliente reclamar que você está gorda, ou está magra. O cabelo, a pele, a alimentação sempre têm que estar bem. Não é só uma questão de ser bonita, tem que ter postura também. Fotografar é muito difícil”, finaliza.

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Fonte: Terra
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